Acompanhar
as mudanças de preços que a Petrobras está promovendo desde julho na gasolina e
no diesel, dentro de sua nova política de ajustes, exige paciência e tolerância
a descobertas que podem não ser muito agradáveis. Agora, o que manda é a
variação do petróleo no mercado internacional. Como os brasileiros tiveram o
azar de pegar um período de aumentos da commodity, o resultado é um só: o preço
do litro da gasolina sofreu 85 mudanças na refinaria para a distribuição desde
o dia 4 de julho até 9 de novembro, sendo que 45 foram aumentos e 40,
quedas na tabela. Com isso, o preço acumula alta de 27,4% em quatro
meses. O diesel, insumo essencial para transportar mercadorias - 65%
circulam no modal de rodovias - e pessoas que usam ônibus urbanos, teve 87
alterações, 49 de alta e 38 de corte de valor. O acumulado também é positivo,
com avanço de 25,8%. O consumidor final não chega a receber integralmente
o repasse. A distribuidora transfere os ajustes aos postos, que dosam o impacto
à bomba. Mas os índices de inflação já vêm acusando o golpe, além de virar
rotina a notícia de novas mexidas nos preços. O economista da Fundação de
Economia e Estatística (FEE) Jéfferson Colombo fez, a pedido do Jornal do
Comércio, os cálculos, baseados nas tabelas da estatal, e chama a atenção para
a aceleração mais recente na gasolina, principal combustível de quem abastece
em Porto Alegre. "É importante destacar que as altas mais significativas
ocorreram na última semana de outubro e nos primeiros dias de novembro. O
aumento acumulado é de 16,3%", adverte Colombo. "Isto deve afetar a
inflação para o consumidor nestes meses", associa o economista da
FEE. Foi uma overdose de anúncios - 12 alterações em 16 dias - de 24 de
outubro a 9 de novembro, sendo 10 com aumentos na gasolina. Diesel foram sete
altas para cinco reduções. Detalhe: no cálculo, não estão as mexidas mais
recentes, na sexta-feira e no sábado - a gasolina teve dois leves recuos, e o
diesel teve uma alta e uma baixa. O professor da Escola de Negócios da
Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (Pucrs) Gustavo Inácio de
Moraes observa que a nova política interrompeu um ciclo de preços controlados,
com ingerência do governo federal, e independentemente do mercado. Enquanto
segurava repasses, o que beneficiava consumidores, a prática afetava resultados
da companhia, reduzindo ganhos de acionistas e capacidade de investimento.
"A nova política é mais adequada para a Petrobras, que é uma empresa de
capital misto, mas torna o preço incerto", contrapõe Moraes, que cita
ainda que a nova fase coincide com altas do petróleo. Também em julho, houve
elevação da tributação, com mudança em alíquota da Cofins, que afetou preços
finais. No caso do Brasil, diferentemente de outros países que seguem variação
externa, maiores custos da empresa, monopólio no refino e carga tributária
pesam na hora que os produtos vão a distribuidoras e postos. "Poderia
custar menos, mas desde remuneração de executivos à capilaridade de companhia.
Tudo pesa, e os custos operacionais subiram com a exploração do pré-sal",
completa o professor. O consultor Edson Silva, da ES Petro, reforça que
economias de mercado balizam o preço dos derivados pela variação da commodity.
"O que faz a diferença é a carga tributária de cada um e a cotação da moeda",
explica Silva. "A carga tributária da gasolina no Brasil é de 48%. É
estonteante!", conclui o consultor. Moraes ressalta o efeito do repasse de
aumentos para transportes, devido à dependência ao modal rodoviário, como
um dado a ser analisado, e ainda ao consumidor final, e seu impacto para a
inflação, que experimenta recuo forte em relação a 2016. Como o monopólio é no
refino - e os preços anunciados pela estatal são para distribuição -, e há
certa concorrência no varejo, o aumento acumulado não chegou ao nível apurado
por Colombo. Mas a dúvida é se os cortes de valores, que também são repassados,
vão ser sentidos pelos consumidores. "Como a estrutura de mercado é muito
concentrada, o repasse das altas é mais rápido e poderá ser maior do que a
transferência de preços menores, que chamamos de assimetria nos repasses",
previne o economista da FEE.
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